sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Ninho



Nesses tempos onde o tempo é areia escorrendo em uma velha ampulheta, nada mais me conforta, me acomoda e me aconchega que a presença refletida de mim mesma em minha casa. Meus cantinhos traduzem o meu silêncio, minhas vontades, minhas manias.Os quadrados da casa, da alma e da vida, se ajustam, se arrumam, se organizam. Tudo silencia o furor de um cansaço que o vento aprisiona em mim. Minha cama explica o tom sutil das florezinhas miúdas de um lençol estampado. Claro, claro que foi presente. As estampas não me caem bem. Lençóis lisos traduzem a certeza do que se sabe, ampliam o tamanho da cama, deixam o meu sono mais tranqüilo. Sou eu toda de uniformidades, de alinhos, de linhas retas e milimetricamente medidas e arrumadas. Minha casa diz e repete pra mim quem eu sou e eu me sinto forte, segura. Uma xícara de café fresco, um chinelo velho e tempo gasto com bobagens ao computador. Acordar cedo e brincar com o lençol, sendo surpreendida pela luminosidade que entra pelas frestas da janela. A moça da pamonha com sua toada insistente e as notícias do jornal que se repetem, mas não perdem o cheiro de novidade. Levantar e dar de cara com as estantes, imóveis, mas sorrindo com os dentes abertos, cheinho de livros. Tocar em cada um deles. Ouvir uma música de Hendel enquanto saboreio um café e um pão quentinho, recheado com sabor de leve brisa. E nesses momentos simples e tão únicos é que se percebe e se sente o que é realmente estar em paz.