quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Sofrimento


Renoir, La Vague, 1879.





Sim, o sofrimento é necessário.

Luto, descanso, repouso e reza

Ave de asa cortada

perdida no vão da treva


Enfrento a dor de cara lavada

sangue nas mãos,

lágrimas nos olhos e

uma oração no céu


Sim, o sofrimento é necessário.

O sofrimento é salvação

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Oco de Mim



Queria trazer-te um poema,

um poema pequeno,

que te contasse em silêncio

o tamanho da minha saudade


Mas neste oco de mim, nada cabe.

As palavras não ficam e escorregam

por entre as lágrimas,

por entre os sonhos,

por entre as pernas

e caem no chão.


Neste oco de mim

só cabe

a cor esmaecida

de uma tentativa.


Neste oco de mim só

cabe o gosto amargo,

o nó na garganta

de um castelo de areia, lindo,

que as ondas levaram

e não trazem mais.


Neste oco de mim só

há espaço para a dor

que é amplidão

Não há cortinas de fumaça, máscaras,

falsas palavras...


Apenas eu, treva

silêncio e solidão.


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Permanência



Parece que é só você

que ousa atravessar esse sem-fim

que me separa de mim, do

mundo, do que é tangível.


Inatingível e isolada nos

confins do meu entendimento

Solícita ao meu próprio tormento

procuro encontrar as chaves.


E agora, nem mais o amor explica a continuidade...


Mas é só pelo amor que eu ainda estou aqui

E é só pelo amor que você ainda está ai.



*Poema escrito em setembro de 2010, modificado em novembro de 2010.

A flor e o asfalto


Depois de muito tempo uma flor amarela nasceu no asfalto em frente a minha rua. Da janela vejo a flor, de haste muito fina, firme a contorcer-se em meio à brisa leve. Quase desprendida, mas leve.

Depois de muito tempo a flor compreendeu a solidão dos asfaltos e a rigidez do tempo. Da janela vejo a flor, resiliente, a se ferir com as pedrinhas que a cercam.

Toda vida é banhada por sofrimentos, toda flor um dia nasce no asfalto.

Da janela vejo a minha vida que se reconfigura em flores, asfaltos, espaços vazios e esboços de solidão. É assim que a gente cresce, é a assim que a gente escreve com carvão e cinzas a nossa própria história. Sem esquecer que da flor também emana perfume e é preciso estar atento para senti-lo, para senti-la.