quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

In the bed


In Bed, Henri de Toulouse-Lautrec, 1892. 



Na minha cama nossas almas se encontram
Há alegrias perenes, há conflitos passageiros,
Há sorrisos, há luz,  há amor,
Há a tua presença iluminando as minhas dores
Há lágrimas, há promessas, interrogações e dor.

Na minha cama é o lugar onde te repouso
Onde és assim tu mesma, pura e branca
Onde experimento a pausa na dor,
Doses homeopáticas  de esperança.

Na minha cama há sonho e espinhos
Solidões e descaminhos,
Um buraco enorme deixado pela falta que você faz.

Na minha cama há calma voraz,
Quando passeias sobre meu corpo
E me dizes em silêncio que me amas

Tempo vão, Temporais. 


Spes


Memories, John Alexander, 1903


Esperança. No dicionário: confiança em algo positivo. Dela derivou o verbo esperar através do verbo latino SPERARE, “aguardar, ter esperança”. Na sua etimologia latina, esperança vem de spes e sperare que significa uma espera aberta, que não assenta em resultados externos , mas sobre a realização da pessoa. Assim, a esperança é uma tendência para um bem futuro e possível.
Desespero. A sua utilização mais antiga em inglês remonta a c.1325, com origem no francês antigo desperer, perder a esperança, desesperar.

Meu coração repousa ansioso sobre estas duas palavras. Entre esperar e perder a confiança na espera eu me traio, peito dolorido, braços pendentes de cansaço. Eu amo, eu me entrego, eu esqueço a altivez e o orgulho. Eu esqueço de tudo, até mesmo de quem sou. Sou uma outra ao espelho, não gosto do que vejo mas há tempos que já não consigo ser eu mesma. Repouso faminta sobre as migalhas do amor que se mostra. Do amor que se retrai. Do amor que é e não é ao mesmo tempo. Da dúvida insistente, da vontade impulsiva de ser feliz. Meu corpo me castiga, sou eu toda em frágeis pedaços contorcidos pelos espinhos que crescem sobre mim mesma. Carente, busco uma palavra, uma voz, uma confirmação. Procuro seu amor nas palavras que dizes, nas letras, nas declarações antigas. Cega, esqueço os limites, me traio, me petrifico, sou uma dor elegante sem esboço de sorrisos. Uma flor murcha, por fora e por dentro, murcha como os olhares das pessoas, como dizem que estou. Mas há hiatos maravilhosos nisto tudo quando te vejo. Quando você me diz que me ama e que eu sou a mulher da sua vida. Quando te beijo, te abraço e te sinto assim de forma tão plena.  Sinto a sua dor em meu peito, repouso a tua cabeça sobre o meu ombro e esqueço até mesmo da minha dor para te confortar. Sou confidente, escuto o que não posso. Falo o que não devo. Compartilho lágrimas, sonhos e faço planos. Mas eis que o tempo se esvai, passa ligeiro quando estou contigo. E logo estou novamente só. Abro os olhos e é treva, estou só. Eternamente pendular. Entre seguir  em frente e fazer uma curva no caminho. Entre ficar e ir embora. Entre a esperança e o desespero.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Essa mulher



Uma mulher em estado puro de sensibilidade. Uma mãe. Uma cantora. Uma intérprete. Uma emoção pulsante. Uma pergunta sem resposta. Seriam necessárias palavras, metáforas e infindas construções para de longe conseguir chegar perto de uma definição para Elis. Ela morreu quando eu ainda era pequena, não tive a oportunidade de acompanhar a sua carreira, de vê-la cantar na TV, de comprar seus discos ou de ir a um show. Ainda assim, quando a ouço sinto uma proximidade inexplicável, pois a sua música me toca profundamente, me identifico com aquela mulher que sentia tudo intensamente e que exalava pela voz e pelos poros os seus sentires, sua liberdade, sua maneira única de ver as coisas. Elis era uma pessoa especial, grande demais para caber no espaço físico de um mundo limitante e avesso a sentires como o nosso. E que grande mulher era! E que grande esforço fazia! E como doía viver! Um dia não coube mais, não quis mais doer. E assim como tantas outras estrelas que caem sobre nós, Elis deixou o rastro de sua luminosidade e de sua música. E continua brilhando até hoje. No mundo, na música. Continua brilhando para sempre em meu coração.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Desde o primeiro dia



Desde o primeiro dia em que te vi
Eu te segui com o olhar
Fui atrás dos seus passos
Do seu rastro no ar
Vasculhar seu amor
No que eu pudesse achar
Nas cartas pelo chão
Retratos no mural
Pedaços de canções pra mim

Desde o primeiro dia em que te vi
Eu conheci o amor
Mais real, mais bonito
Que eu podia inventar
Como um cais pra nós dois
Sabia até cantar
As frases que depois
Você iria usar
Os beijos que eu não posso mais
Viver sem encontrar
Sem te contar
No tempo que eu levei
Pra te achar

Hoje acordei com frio
Hoje, meu amor
O quarto está vazio

Desde o primeiro dia em que te vi
Eu te perdi sem saber
Te esqueci escondido
Congelado em mim
Flor no vaso a morrer

Mas eu não vou chorar
Eu busco o eterno sim
Até onde não há
No ar o nosso amor em vão
Que eu amo até o fim
Até virar a nota da canção
Ilusão

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Resposta




"Vou te dizer o que eu nunca te disse antes, talvez seja isso o que está faltando: ter dito.
Se eu não disse, não foi por avareza de dizer, nem por minha mudez de barata que tem mais olhos que boca. Se eu não disse é porque não sabia que sabia — mas agora sei.
Vou-te dizer que eu te amo.
Sei que te disse isso antes, e que também era verdade quando te disse, mas é que só agora estou realmente dizendo."

Clarice Lispector

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Saudade



Nunca eu entendi de forma tão plena o significado desta palavra como entendo agora.  Todas as letras, sílabas, formas, sons do seu significado, marcam cotidianamente a minha mente e o meu coração. Todos os dias ela se repete entrando como o sol pelas frestas da janela. Tudo evoca a sua presença. E de uma forma tão plena, tão forte, tão marcante....Tudo dói, tudo é falta, mas a falta mais pungente não é bem do afeto de amantes, dos beijos tão nossos, do seu conforto ao dormir em meu braços como que enroscada em um ninho. O que eu sinto mesmo mais falta é da sua amizade. Da possibilidade de compartilhar com você todas as coisas, sentires, sons, gestos, dúvidas. Da sua escuta, do seu olhar que não dizia nada e ao mesmo tempo me abraçava. De saber da sua vida, de te dar força para que você caminhe sempre em frente. De te ajudar a caminhar. De te carregar no colo e ouvir você me dizer que ao meu lado havia segurança e força contra as coisas difíceis da vida. Sinto falta de te contar as novidades da minha vida, da vida dos outros. De rir das besteiras, dos tipos e tipos engraçados que víamos pelas ruas. De falar sobre a sua família, sobre a minha família. De desatar laços antigos num desabafo, de contar segredos. De ver uma música, um filme, uma frase e imediatamente te mostrar. De te mandar um e-mail. De te  ligar para dizer que na quarta ia passar Carpinejar no programa Provocações, ou te contar num súbito grito de alegria que será lançado um filme sobre a vida da Clarice, mas que não é bem a  Meryl Streep  que vai ser a protagonista. Saudade de saber o que você almoçou, se os seus pontos cicatrizaram mesmo, se você está maneirando na academia. Saudade de tirar as suas dúvidas, ser sua eterna professora. Saudade de ser sua amiga. E pensar ainda: Será que você sente saudade também? Não sei. Fiz uma escolha difícil ao estar longe,  porque no meio de tanta dor, nem sei o que dói mais. Mas o tempo tudo desbota e você, que gosta tanto de contar o tempo, de marcar em datas e números o que não se quantifica, deveria saber disso. Não quero ser um retrato amarelado no fundo de uma caixa velha. Uma lembrança perdida no fundo de uma gaveta. Uma vaga lembrança de um amor que não deu certo. E vejo o tempo desbotando tudo, levando os sonhos, esperanças, promessas e planos. Sinto a névoa do tempo apagando até mesmo as lembranças, a saudade. Sinto-me sendo para você esta velha lembrança, esta bruma, este papel amarelado. Este amor de ontem , sem passado e sem futuro. 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Canção do Amor Perfeito





O tempo seca a beleza.
Seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
Desunido para sempre
Como as areias nas águas. 

O tempo seca a saudade,
Seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
Vagando seco e vazio
Como estas conchas das praias. 

O tempo seca o desejo
E suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
Vestígio do musgo humano,
Na densa turfa mortuária. 

Esperarei pelo tempo
Com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
Não na terra, Amor-Perfeito,
Num tempo depois das almas.

Cecília Meireles

Como aprender a odiar para não morrer de amor?




Oito anos. Noventa e seis meses. Dois mil oitocentos e oitenta dias.  Sessenta e nove mil, cento e vinte horas. E nada. Nada resta de um tempo que escorreu por entre os dedos. Nada se compara ao amor novo, o que se mostra, o que sobrevive ao desgaste contínuo de todos os sentimentos ruins. Este é o amor que prevalece, este é o amor que se comemora. Nele apostam-se todas as fichas, o amor de salvação. Sinto uma inveja mórbida deste amor de superfície. Uma mistura pérfida de inveja e desolamento.  Sentimento ruim, raiva, angústia. Uma pequenez que não combina com a altivez com que sempre encarei a vida. Não entendo onde se escondem agora todas as juras secretas e públicas, onde se esconde o amor que é tão grande, que transborda por todos os cantos. Conteve-se? Acabou-se? Perdeu-se na bruma de um erro, de uma palavra não-dita, tentativa infeliz de consertar o que não tem mais conserto. Não tem mais amor hoje, bebê.

Repouso a minha cabeça sobre as minhas lágrimas. Sou forte. Com toda  a modéstia que me cabe, sou forte. Sinto o cheiro de sangue que me sobe às narinas, revolto-me com a impossibilidade de seguir caminhando como um paralítico que não enxerga que não anda mais, até que sofre a primeira queda. Me arrasto pelo chão, rastejo, amparo-me no vazio, em mim mesma, em Deus. As pessoas repetem os clichês idiotas e eu esboço um sorriso amarelo. “Obrigada pela sua amizade”. Palavras inúteis, consolo enganoso. Não quero um prêmio de consolação, não quero um amor platônico, não quero ser alguém especial. Não quero os tapinhas nas costas, não quero ser uma nova mulher, fazer mil mudanças em minha vida, não quero pintar o cabelo de vermelho. Quero viver da maneira que sempre vivi e a impossibilidade de fazer isso hoje é o que mais me apavora.

Repouso a minha cabeça sobre a minha coragem. Dor é para deixar doer. Nada de analgésico, nada de paliativos. Falsidade embalada em papel de presente. Quero rasgar a esperança do peito como quem extirpa um câncer. Sem anestesia. Esperar que se arrastem os dias vazios, porque no final das contas é o que se  tem. O vazio. Contento-me com ele, com as folhas secas que o tempo vai despetalar e restará apenas o tronco oco e morto de um engano. Uma miragem no deserto de solidão que povoava a minha vida. Continuo sozinha e assim permanecerei, neste mundo insano que se debate à minha frente.

Repouso a minha cabeça sobre o meu futuro. O tempo secará as lágrimas do tempo. Mas a árvore morta nunca mais ficará verde. E sobre as folhas secas, pisando-as delicadamente, eu caminharei. Sem olhar para trás. Nunca mais.  

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Now And Then



Sometimes the hole
You left hurts my heart
So bad it cuts through
The deepest parts of me
And fills up my mouth
With words that I cry
How I'm still trying
To stay inside

Hearts break
And hearts wait
To make us
Grow from dust
Then our eyes cry
And souls sigh
So that we know
That it hurts
Our hearts break
And hearts wait
To make us
Grow from dust
Then our eyes cry
And souls sigh
So that we know
That it hurts

Every now and then
My memories ache
With the empty ideas
Of the ones we'd made
But as time goes on
and my age gets older
I love the ones I know
They're enough
To picture the rain

Cause heart break
And hearts wait
To make us
Grow from dust
Then our eyes cry
And souls sigh
So that we know
That it hurts
Our hearts break
And hearts wait
To make us
Grow from dust
Then our eyes cry
And souls sigh
So that we know
That it hurts

You know
When to make me
I might
Just your heal (4x)

Tristeza





Nunca houve alguém que o amor pusesse assim tão triste,
Li algum dia, em algum lugar.
E sequer imaginava que esta pessoa que tanto sofria
Pudesse um dia,
Estar tão próxima do que esta que aqui está. 

Minha cabeça racional martela
em decisões que precisam ser tomadas,
Mas  meu coração
Pede ansioso a sua presença, sonha com a sua chegada
Como um gole de água fresca em meio a dias de sede.

E entre pensar e sentir e pensar de novo,
a angústia invade o peito, a alma, toma a calma
e o pesar é invadido pelas lágrimas
numa canção de tristeza e dor.

Nesse mar de tristeza que me povoa,
a lembranças das coisas boas
Traz esperança ao meu coração...
E penso no amanhã com lágrimas nos olhos,
Com a cabeça recoberta de sonhos e o coração
transbordante de amor.