
Memories, John White Alexander, 1903.
Ontem fui ver o mar. Noite já tinha caído, uma insanidade. Tem sido de insanidades a vida. Precisava. Almejava apoderar-me de um pouco daquela força para conseguir deitar a cabeça no travesseiro. Precisava ver o ir e vir das ondas nas pedras fortes, o cheiro de maresia por entre as narinas, a natureza imperiosa me dizendo sim, as coisas podem ser diferentes. A natureza me dizendo que eu sou essencialmente forte, de uma força desconhecida, embora a minha fragilidade seja uma daquelas ondas a se desmanchar na areia. Em minha cabeça pairam ideias opostas que se enovelam. Existe uma áurea de racionalidade que sopra como vento forte, que ecoa sobre as muitas vozes que estão ao meu redor. Existe um amor forte que pulsa. E é verdade. E é inteiro. E me toma toda, como as ondas tomam e derrubam o que estiver pela frente. Preciso aprender a conviver com ele. Ainda não sei. Talvez nunca saiba. Talvez acorde um dia e de repente aprenda. Queria que a minha palavra pudesse ter o peso do que sinto. Não tem. Existem palavras que se perdem sozinhas por aqui, sem formar frases. Angústia é a mais forte delas. E não deixa as outras, tão lindas, saírem. Hoje não há poesia. Ainda bem que a poesia é respirável. Que me cerco dela como quem precisa de ar. E é nas palavras da minha amiga Priscila Fernandes, que o meu coração hoje fala:
Enquanto existas
Enquanto existas, detrás das coisas. |
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Enquanto nada me encha o peito |
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Enquanto eu pressinta que és e que te chamas |
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Seguirei assim, como venho sendo, |
Priscila Fernandes
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