terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Da solidão




Acho que nasci realmente para estar sozinha. Solidão concreta, de não ter o outro ao lado para questionar e nem tentar compreender. E vice-versa. Parece triste chegar a esta conclusão, mas é o simples passar dos dias que me convence de que isto é uma verdade. Estes períodos – pós-outro – se assim posso chamá-los – me são bastante produtivos. É como abrir janelas, soltar correntes, sentir o vento bater na cara...Sensação ímpar de liberdade. Paradoxal quando se trata de alguém que teme a solidão como eu. Paradoxal. Palavra repetitiva esta.

Agora me volto para o escrever. Ato quase profético, abandonado para tentar ajustar relógios, para repetir a enfática frase: tentar ser feliz. O escrever tem consigo chaves preciosas que trazem coisa boa aos lábios. O escrever é um encontro secreto consigo mesmo. É respirar fundo depois de tempo sufocada e sentir o ar adentrar profundamente pelos pulmões como a esperança única de sobreviver. Agarrar a vida com as mãos cheias de desespero e quase senti-la se esgotando e depois tê-la novamente como algo que se achou depois de longo tempo perdido. Escrever é assim.

Melhor que escrever é ler o que os outros escreveram. Ler e ser tomada por uma identificação absurda, como se o outro fosse um espelho perfeito. É como balbuciar a letra de uma música que você está ouvindo, falar a frase antes, ouvir depois. Ouvir antes, falar depois. Sinto-me assim, redescobrindo o óbvio. Os livros em minha estante, as músicas que ecoam silenciosas pela casa, as minhas palavras perdida em cartas, em papéis amarelados, em poesias adolescentes esquecidas em cadernos manchados pelo tempo. Tudo reverbera em mim como um reforço à esperança. É bom e ruim ao mesmo tempo, um sentir inominável, algo que pode chegar perto de leveza. E na verdade eu nem sei bem o que isso significa. Estar sozinho, dessa solidão concreta, diferente da outra - diária – é a constatação pleonástica de que a vida é solidão. E principalmente de que estar sozinho é algo muito mais simples e comum do que se pode imaginar.

2 comentários:

Tom Correia disse...

Muito bem, Ilmaralina...

o retorno à escrita com direito a flerte com a prosa... voltarei sempre aqui para compartilhar das suas produções inspiradas nos conflitos existenciais que topamos em cada esquina...

grande beijo

Snow disse...

Eu acho que nasci para a madrugada.
O silêncio da noite, com ou sem solidão, me acalma.
Escrevo de noite, durmo de noite, vivo o dia inteiro esperando pela noite...
Ficar sozinha é um momento escuro... e, por vezes, cheio de estrelas.

Abraços.