sábado, 26 de julho de 2008

Encravado

The Beethoven frieze, Klimt


Seu amor é como unha encravada
Arranco, aparo, sangro
Estanco e cicatrizo...

Mas não tem jeito,
Como um ciclo,
Seu amor encrava.

Cresce colado á carne
Rompe, machuca e arde

E ainda que seja estirpado...

sempre volta a doer...

sempre volta a doer...


segunda-feira, 14 de julho de 2008

Interrogação



Não, você não me diz nada. Você detesta dizer, você se defende sereno do que sequer pode vir a acontecer. Você é um menino. Com uma faca na mão. Uma faca suja de sangue. Você é um menino abandonado por si mesmo. Quando te olho eu vejo o que os outros não vêem. Acho que é por isso que me dói tanto. Laços foram criados, nunca desatados. E cá sigamos nós, amarrados, caindo e levantando, pelo simples fato de estarmos presos a nós mesmos. Difícil compreender isso, difícil dar de cara com a possibilidade, ínfima que seja, dessa identificação absurda, deste sentimento que não se nomeia, dessa cicatriz que o tempo desenhou. Encontro-te em meus pesadelos, nos meus medos mais profundos, nas minhas alegrias e nos meus sonhos. Por vezes me roubas sorrisos, por outras me presenteia com lágrimas. Eterno paradoxo que se desenha em meu cotidiano. Escuto a tua voz me chamando, é real, é sonho, estou louca? A sua voz ecoa rouca sobre a escada da casa. Finca a tua marca em todos os cantos, em todos os lados, em todos os poros. Tua marca acesa como ferro em brasa não me deixa sossegada por um só segundo. A inquietude me toma, me comovo com o teu amor cego, tropeçando sôfrego sem conseguir se levantar. O teu olhar de tristeza me degela, me compele a estender-te a mão. Em vão...

Seria apenas a leve lembrança de um tempo que o próprio tempo apagou? Seria esperança, seria piedade, seria nostalgia, seria amor?

sábado, 12 de julho de 2008

Pedido

O beijo, Klimt

Em silêncio me pedes o que não sei,
Em silêncio me contas segredos indecifráveis,
Em silêncio as esperanças se tornam renováveis,
Em silêncio redescubro tudo o que já sei.

Ou

Não sei
O não-saber é silêncio que angustia,
É acalento para a alma vazia,
Um abismo incomensurável de sonho e incerteza.

Não sei
O não-saber é a possibilidade de esperança,
A beleza de um olhar de criança
Água fresca que tudo sacia.

Não sei
E me perco em fragmentos de nostalgia
E me afogo nos seus olhos macios
E me acho no seu sonho perdido
E me comovo com o sentir que me invade

Tentando desvendar o seu pedido.