segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Música




Um dia era a menina. Eram cambitos as pernas. Ela era tão magrinha.... A mais nova, a mais inteligente. E a mais sozinha também. Ela tinha um ursinho azul velho que a mãe num arroubo de alegria lhe deu dia desses. Guardou enquanto pode... Não é todo dia que recebia um presente. E da mãe? Pior ainda. Mas a chuva veio, as goteiras do quarto, o mofo, a poeira... Não tinha jeito, ele tinha que ir embora. Dor pesada e enorme ver o ursinho ser jogado fora. Já não era mais um ursinho, pedaço pequeno de plástico e esperança. Era um depósito inominável de coisas boas, era um símbolo. Passou. Ela sobreviveu.

Um dia ela aprendeu que existia alívio em ver as coisas que sentia em um pedaço de papel. Que afinal as aulas chatas de português serviriam para alguma coisa. E escrevia, escrevia, escrevia. Avidamente desvirginava a brancura da folha de papel com o que havia de mais seu, com o que era volátil e agora tinha uma razão de ser fixo. E a escrita virou algo precioso e só seu. Marca registrada do que agora se chamava mulher.

Um dia ela ouviu música... Fenômeno mágico, não se lembra a hora nem o dia...Uma calma vinda de não sei onde tomava conta do seu coração e dava pra esquecer uma vida não tão boa, vida diferente das histórias corriqueiras de meninas e de músicas. Vivia pegando emprestado o radinho-relógio velho do pai...Acho que nem se fabricam mais destes...Ouvia o rádio, tentava adivinhar qual seria a próxima música, num jogo só seu, até que dormia tranqüila e o pai, ao chegar, levava embora o tal radinho para o quarto dele.

Um dia o pai, galho seco de árvore, num ímpar arroubo de alegria e generosidade resolveu lhe dar o radinho. Ela nem acreditou. Foi tomada de uma alegria impar, por dentro dava saltos de alegria, por dentro pulava, sorria, era toda contentamentos. Mas por fora não sabia como se sentia isso e secamente deu ao pai um “Muito Obrigada”. O pai secamente nem respondeu, mas ficou feliz também, pois era por estes gestos imperceptíveis que os dois se encontravam. De alguma forma ele também disse “De nada”.

Um dia o radinho já não era mais suficiente... A menina cresceu e com ela a sede de ouvir outras músicas... Essas que não tocam no rádio, essas desconhecidas, famosas por serem raras, reconhecidas por um número ínfimo de pessoas. Ela ansiava por ouvi-las, ela ansiava por fazer parte desse mundo de pessoas raras e ínfimas. Mas ela não era rara. Era comum como nota velha e esbagaçada de um real. Ela era igual a todo mundo e ao mesmo tempo completamente diferente. Ela na verdade já não sabia quem era e queria mesmo era desistir de tudo isso.

Um dia o radinho quebrou, o urso morreu, o diário rasgou e a menina voltou pra dentro de si. De lá nunca mais saiu e faz passeios arriscados à porta de si mesma. De lá de dentro ela só escuta o som da música que vem daqui. Sente o cheiro de passado que ela evoca, arrisca uma saída súbita, põe só um pé pra fora, respira o ar de novidade e volta correndo pra dentro, medrosa que é. Prefere pagar o alto preço da saudade e da solidão.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Sozinha

Marc Chagall, Bride with Fan, 1911


Hoje não tem lua no céu,
Nem brisa suave,
Grilos no telhado
E almoço na varanda.


Hoje não tem olhos brilhantes,
Sorriso nos lábios,
Coração pulsante
E mãos entrelaçadas.


Hoje é absurdo.
Longa ponte entre o tudo e o nada.
Hoje é sentimento,
Tristeza e solidão.



Hoje é amargura,
Angústia, piedade,
Hoje é a saudade
Amiga, desde então.


Hoje apenas vive
Sombras e penumbra.
Só, sem ninguém que escute,
Discuta, veja ou descubra.

Que estou tão...
Inexoravelmente
Sozinha.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Coisas só nossas...



Existem coisas que são só nossas e por mais que queiram, jamais conseguirão nos tirar. Essa é a certeza plena que me faz ficar de pé e caminhar ressusreta rumo ao que me faz verdadeiramente feliz.







Menina da Lua

(Maria Rita)


Leve na lembrança ,

a singela melodia que eu fiz ...

Pra ti, oh bem amada
Princesa, olhos d'água, menina da lua


Quero te ver clara, clareando a noite tensa deste amor
O céu é teu sorriso,

No branco do teu rosto a irradiar ternura

Quero que desprendas de qualquer temor que sintas
Tens o teu escudo, teu tear
Tens na mão, querida, a semente

de uma flor que inspira um beijo ardente
Um convite para amar

Quero que desprendas de qualquer temor que sintas
Tens o teu escudo, teu tear
Tens na mão, querida, a semente...

de uma flor que inspira um beijo ardente,
Um convite para amar
Leve na lembrança,

a singela melodia que eu fiz

Pra ti, oh bem amada
Princesa, olhos d'água,


Menina... Linda...


Amor em monossílabo
Beco sem saída,
Pinga no olho
Lágrima de desesperança...

domingo, 30 de novembro de 2008

Encantamento

Juan Miró, quadro lindo que não sei o nome.





Tudo é o não-saber
Revelado por uma palavra,
Revelado por um sorriso,
Uma escuta,
Um acontecimento.


Tudo é o que não se vê
Mas se sabe, se percebe,
Se intui e transparece
Pela lente curiosa
De um encantamento.

Toda é a alegria
Que surge a cada momento,
Escondida no canto da boca,
E se estende pelo dia
E espera pacientemente a noite chegar.

Toda é a esperança,
Uma coisa á toa, bobagem passageira
De menina arteira
Que esqueceu de crescer...


Toda é a vontade,
Pequenina e persistente,
Que esse encantamento,
Sopro leve de um afeto quente,
Não se perca pelo ar...

Toda é a possibilidade
Que ele se torne
Sentimento verdadeiro,
Não importando o nome que tenha
Mas que venha e se instale,

Que alegrias sempre exale
E que chegue...

Pra ficar.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Dor de Alma


O tempo me consome incessantemente. Ora passa lento, ora rápido demais, ora não o sinto passar. Minhas mãos tentam seguir o percurso do meu pensamento. Mas ele está vazio, assim como está o meu coração. De repente me dá uma vontade inusitada de fumar. Não fumo há tanto tempo...tentativa frustrada de que a angústia se vá junto com a fumaça do cigarro, que escape pelas frestas das janelas e suma em direção ao céu. Ledo engano, vontade pueril de que, de repente, tudo fique bem. Não pensar em você é difícil, mas pensar em você dói. E eu fico no meio de um fogo cruzado onde a razão e a emoção brigam e nada se resolve.

Ainda não passou, estranho se passasse? Fica um incômodo, uma sensação de dever não cumprido, uma falha em meu caráter essencialmente racional e quadrado, em minha torpe mania de achar que tudo precisa ficar milimetricamente arrumadinho, inclusive os meus sentimentos. A desordem da vida me incomoda, a bagunça em minha mente me incomoda, me incomodam as coisas estranhas e pungentes que eu não posso controlar. Sinto-me como quem acabou de arrancar um dente. Dor de dente é dose, não pára de doer um só segundo, incomoda, angustia, oprime. Aí você resolve arrancar. Não, canal não adianta, apenas adia o problema. Vamos pôr logo fim a isso. Em meio aos apelos do dentista que diz: “Tem certeza que a senhora não quer tentar um canal?” Tenho. Quero 100% de certeza, não quero pensar na ínfima possibilidade de sofrer tudo isso novamente. E lá está você, resignada, diante de uma agulha do tamanho do mundo, onde finalmente você se anestesia. E lá se vai o dente. Sangra, estanca. Pronto. Não faz muito esforço e volta pra casa. Alívio. Acabou a dor. Acabou a angústia. Mas falta algo. Passeando com a língua pela boca, lá está o buraco. É enorme. Cadê o dente que tava aqui?

O buraco fica, o buraco não some, o dente não volta. Você está sem uma parte sua. Abre a boca enorme diante do espelho e se confronta com a falta. Já não sorri mais com o sorriso largo, sorri de meia boca, podem perceber que me falta algo. Sorri um sorriso falso, finge felicidade que não existe. Mas um dia você se acostuma com a falta. Cria estratégias pra falar, sorrir e comer sem o tal dente perdido. Afinal você tem vários né? Se não me engano, salvo os molares miseráveis que quase sempre temos que arrancar, ainda sobram pelo menos 30. O tempo passa e a vida continua. O tempo reconforta a falta. Embora a falta nunca falte. A falta só se tranforma....em saudade.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Das inutilidades

Que faço eu aqui
num mundo onde

tudo o que é mais significativo para mim
não significa nada?

Logo eu, cheia de sentires e poesia,
cara gorda de intelectual metida a besta,
pairo plena num movimento de inutilidades.

Minha poesia é (des) útil, não serve para.
Meu sentir é desnecessário, sofrível, incognoscivel e perdido.

Pairo com cara de boba a perguntar pra mim mesma:


Que diabos é que eu estou fazendo aqui?

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Palavra

Palavra abrupta,
Expulsa a ferro da goela
Palavra imunda,
Nascida de uma fecunda espera

Palavra
Sentida
E ressentida
Diluída, dissolvida
Na mágoa do acontecimento.

Palavra não-dita
Falada, escrita,
Imaginada, rascunhada
E pintada
De uma única cor.

Palavra amarela, azul e lilás
Pueril amparo,
Calma voraz...
Que não volta.

Gosto amargo de despedida e dor

Bendita e maldita palavra
Invisíveis grades, prisão de alma
Gosto suave
De angustia e acalma...

Ria
chamá-la, fitá-la, nomeá-la, saboreá-la
evita-la e contempla-la


Chama

ria de AMOR






quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Idem Sentire


Tudo no tempo
Reverbera teu encanto
Tudo o que toco
Reverbera o meu espanto
Seu cheiro repousa
Escondido pelos cantos
Da casa
Ausência de ti
Impera em mim
Como asa
Quebrada de beija-flor.
E eu, que nunca imaginei sentir
Desta maneira
Miro a dor do outro lado da sala.
E escorre densa e negra
E sobre mim se instala.
Oco de mim é tua falta.
Angústia de perder-me por ai.
Tua ausência trescala
Aroma de saudade
Reverbera a novidade
Do velho amor
De sempre.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Dor de dó

Edvard Munch , modelo perto da cadeira.



Cheiro de dor enevoando tudo,
Aspiro de vez o mundo, desejo
Mas trago e só acho
Dor de dó em doer mais fundo

E apenas o vazio se instala

Tiro o olho do buraco
O fato se anula, e dói
O ato dissimula de si
Branco, do azul separa

Um caco, um pedaço
De uma oca quimera
Ah, quem dera!

Aproveito os restos,
decomponho os fatos
Incrédula
Somando os raios de sol
Que invadem a madrugada

Com as lágrimas que despejo
Vaga lembrança
Rego o solo do desassossego,

no ensejo

Dor de doer
E mais nada.

sábado, 26 de julho de 2008

Encravado

The Beethoven frieze, Klimt


Seu amor é como unha encravada
Arranco, aparo, sangro
Estanco e cicatrizo...

Mas não tem jeito,
Como um ciclo,
Seu amor encrava.

Cresce colado á carne
Rompe, machuca e arde

E ainda que seja estirpado...

sempre volta a doer...

sempre volta a doer...


segunda-feira, 14 de julho de 2008

Interrogação



Não, você não me diz nada. Você detesta dizer, você se defende sereno do que sequer pode vir a acontecer. Você é um menino. Com uma faca na mão. Uma faca suja de sangue. Você é um menino abandonado por si mesmo. Quando te olho eu vejo o que os outros não vêem. Acho que é por isso que me dói tanto. Laços foram criados, nunca desatados. E cá sigamos nós, amarrados, caindo e levantando, pelo simples fato de estarmos presos a nós mesmos. Difícil compreender isso, difícil dar de cara com a possibilidade, ínfima que seja, dessa identificação absurda, deste sentimento que não se nomeia, dessa cicatriz que o tempo desenhou. Encontro-te em meus pesadelos, nos meus medos mais profundos, nas minhas alegrias e nos meus sonhos. Por vezes me roubas sorrisos, por outras me presenteia com lágrimas. Eterno paradoxo que se desenha em meu cotidiano. Escuto a tua voz me chamando, é real, é sonho, estou louca? A sua voz ecoa rouca sobre a escada da casa. Finca a tua marca em todos os cantos, em todos os lados, em todos os poros. Tua marca acesa como ferro em brasa não me deixa sossegada por um só segundo. A inquietude me toma, me comovo com o teu amor cego, tropeçando sôfrego sem conseguir se levantar. O teu olhar de tristeza me degela, me compele a estender-te a mão. Em vão...

Seria apenas a leve lembrança de um tempo que o próprio tempo apagou? Seria esperança, seria piedade, seria nostalgia, seria amor?

sábado, 12 de julho de 2008

Pedido

O beijo, Klimt

Em silêncio me pedes o que não sei,
Em silêncio me contas segredos indecifráveis,
Em silêncio as esperanças se tornam renováveis,
Em silêncio redescubro tudo o que já sei.

Ou

Não sei
O não-saber é silêncio que angustia,
É acalento para a alma vazia,
Um abismo incomensurável de sonho e incerteza.

Não sei
O não-saber é a possibilidade de esperança,
A beleza de um olhar de criança
Água fresca que tudo sacia.

Não sei
E me perco em fragmentos de nostalgia
E me afogo nos seus olhos macios
E me acho no seu sonho perdido
E me comovo com o sentir que me invade

Tentando desvendar o seu pedido.


quarta-feira, 18 de junho de 2008


Rever o que passou...Pensar o que sobrou e sentir de novo, num desespero diante da impossibilidade material de agarrar o que é volátil, o que esvai no ar, o que é fugaz, o que não é presente e não é passado, mas insiste e teimar em latejar profano, sobre o amor em gotículas derramado.

sábado, 19 de abril de 2008

Pertinência













Cada dia que passa eu me sinto mais ausente
Como se o meu lugar fosse diferente,
Como se eu não fosse mesmo daqui.

Cada dia o hiato é mais profundo,
mais extenso, mais fecundo,
sou eu mesma em questionamentos vazios.
Cada dia é mais desconfortavel o silêncio
a diferença de tudo o que penso,
os meus passos não ritmados ficando sempre pra trás.
Cada dia eu me sinto mais sozinha,
Mais opaca, mais sombria
Cada dia eu me perco e acho
que não me encontro nunca mais.

sábado, 5 de abril de 2008

Antídoto


Não quero mais ouvir o grito dos corvos
Nem o cheiro irritante de dor,
Que invade as narinas.
Quero sentir o cheiro das flores
à minha janela.
Quero o amarelo do girassol e o verde das folhas.
Quero sair, expurgar o veneno
Quero um antídoto para a vida
Insana e que escorre
que rasga, machuca e lanha.
Quero poesia e amor,
Pra fazer realmente valer a pena.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Do cansaço

Estou cansada da mistura, do novo, do outro.
Quero a mim mesma.
Quero cheiro de mofo e papéis amarelados
Quero beber a pura nostalgia
Quero a mesmice de uma vida sem exclamações
Quero reticências...
Quero clones de mim por toda parte.

Da hipocrisia

O que é que faço aqui agora? Desfiles e egos...Não quero brilhar...Não quero ser ouvida...quero o quê?
Sentir...desesperadamente.
Estar nua Estar nua de tudo. Despir-me.
Queria não estar aqui. Mas estou... e sorrio.
Disfarço felicidades e encontros
Pela mera necessidade
De ser um ponto. De ser
Alguém na multidão

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Atriz






Finjo que não sinto
Finjo que não vejo
Escrevo
Um novo personagem
Invento
Sonhos bolorentos
Transcendo
Para uma nova imagem
Atriz
Do meu descontentamento

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Nuances












Teu olho me olha sozinho

Me molha, me pede, recusa

e fere


Teu olho é espinho e

mancha

Meu sentimento perdido

que nunca te alcança


Teu olho me adivinha

Inteira e seduz

É asa quebrada

De sonho e delírio


Teu olho me chora

Me faz pequenina

Teu olho é amor e

despedida

Minha eterna sina.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Dedicatória

Essa palavra não dita
Atravessou a minha vida
Consolidou-se em sílabas, lágrimas
suor , esperança e amor.

Essa palavra não dita
Como brisa
Tranquilizou meu corpo, roto
Agitou meus sentidos
Abafou os gritos
presos/soltos
na garganta.

Essa palavra não dita
Virou semente implícita
Arraigou-se de repente
e silente
Em dor
se transformou.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008






AUSÊNCIA

Tudo no tempo
Reverbera teu encanto

Tudo o que toco
Reverbera o meu espanto

Seu cheiro repousa
Escondido pelos cantos
Da casa

Ausência de ti
Impera em mim
Como asa
Quebrada de beija-flor

E eu, que nunca imaginei sentir
Desta maneira
Miro a dor do outro lado
Da sala.

E escorre densa e negra
E sobre mim se instala

Oco de mim é tua falta.
Angústia de perder-me
Por ai.

Tua ausência trescala
Aroma de saudade
Reverbera a novidade
Do velho amor
De sempre.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Das esquisitices



Impossível não se comparar com algo, com alguém. Impossível não criar modelos, senhores, espelhos...Impossível não fazer o outro de espelho. Nesta inerente ação é que eu me qualifico: esquisita. De vontades e pensares e sentires diferentes dos demais. Por mais que se busque uma autenticidade, não tem jeito. O outro se depara ao nosso olhar. E eis que nos miramos continuadamente. Mania mais que esquisita de teimar em saber quem somos. Não saber é lucro, saber demais pode complicar, pode tornar ainda mais esquisita esta inquietude de ser fora dos padrões. Ás vezes bate uma vontade de ser uma outra. Ou de ser o que se detesta. Como seria? Odiar e amar são verbos tão próximos, tão análogos e tão simétricos. Linhas tênues que separam esses dois mundos...Esquisito é ser assim, fora dos padrões. Sem pertinências, sem comunidades, apátridas, quase. Esquisita é essa minha mania danada de querer expressar com palavras este vazio que não finda, buraco negro sem saída, um espelho plano de meu abandono.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Tristeza

Pouca coisa adianta fazer quando se está triste. Quando o mundo pesa sobre os seus ombros com toneladas, quando você se sente aquele trapo, porque acha que nada dá certo...Parece até mensagem de livro de auto-ajuda, mas isso acontece mesmo... É real.
Tristeza é sutil como brisa, de repente se sente, de repente ela está ali instalada. O que resta é senti-la, não há mais nada que se possa fazer.
Nessas horas assim, de uma nostalgia profunda, o que me move mesmo é a música.
Pouca coisa se adequa, algumas canções de dor de cotovelo, mas eu estou sempre procurando coisas novas. Coisas que me deixem mais triste ainda, ou que me tragam um gosto bom de algo maravilhoso que estava ali e agora não está mais.
Uma coisa que eu gosto muito de fazer também é de ler cartas. Cartas antigas, de amigos, cartas que me dizem tanto...Cartas saudosas, cartas que me fazem chorar. Pedacinhos de papel impregnados de sentimentos bons, de afeto, do mais puro, do mais real.
Tenho um amigo que sempre me escrevia e sinto saudades desse tempo. Escrever pra mim é respirar fundo, é aspirar vida, expirar dor.
Ele não é muito de dar conselhos, mas um dia ele me disse:

Sábias palavras estas, e de relê-las me lembro o quanto as coisas mudaram, o quanto podem mudar, mas que a tristeza é a mesma e que sempre continua.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008






O último dia do ano não é o último dia do tempo, não é o último dia de tudo. Outros dias virão...Parafraseando o poeta, se seguirão horas repetitivas e enfadonhas de rotina. Despiremos a máscara de felicidade e estaremos a postos, um retorno rápido à mediocridade da vida. O que se comemora?
Comemora-se como um ato único e solitário de anestesia.
Ri-se por fora, chora-se por dentro. Planeja-se, mas não se sonha.
Abraços, mas não verdades.
E a vida segue o mesmo rumo...E eu peço a Deus paciência.

Eu comemoro o ciclo. Esta palavrinha pequena que se traduz na esperança de Recomeçar.
Eu comemoro o Recomeço.
Ínfima capacidade de levantar-se e seguir caminhando.
E se possível, sem máscaras.

Que 2008 tenha cheiro de esperança renovável
Fresco como água, com aroma de inovação, de trabalho e paciência.

Que esta palavrinha...ah, que palavra!
Seja a palavra de ordem

Para crescer, para amar e para continuar...






DELICADEZA

Olhar de sonho,
Sorriso de criança
Suave lembrança do colorido
Da primavera...

Diante de si o mundo
E ele, descobrindo tudo,
Absorto no múltiplo
Que o mundo absurdo
lhe dá

O homem, conflitante
Que briga com o menino
Leve desenho surgindo
No fluxo
que a vida tecerá

Em teu olhar me surpreendo
Me rendo ao que ele traduz
Me encanto com a simplicidade

Com o afeto que o medo consome
Com o perfume
Com a pureza
Com a beleza

Delicadeza é o teu nome.

Rabiscado em 06 de novembro de 2007.