quarta-feira, 30 de janeiro de 2008






AUSÊNCIA

Tudo no tempo
Reverbera teu encanto

Tudo o que toco
Reverbera o meu espanto

Seu cheiro repousa
Escondido pelos cantos
Da casa

Ausência de ti
Impera em mim
Como asa
Quebrada de beija-flor

E eu, que nunca imaginei sentir
Desta maneira
Miro a dor do outro lado
Da sala.

E escorre densa e negra
E sobre mim se instala

Oco de mim é tua falta.
Angústia de perder-me
Por ai.

Tua ausência trescala
Aroma de saudade
Reverbera a novidade
Do velho amor
De sempre.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Das esquisitices



Impossível não se comparar com algo, com alguém. Impossível não criar modelos, senhores, espelhos...Impossível não fazer o outro de espelho. Nesta inerente ação é que eu me qualifico: esquisita. De vontades e pensares e sentires diferentes dos demais. Por mais que se busque uma autenticidade, não tem jeito. O outro se depara ao nosso olhar. E eis que nos miramos continuadamente. Mania mais que esquisita de teimar em saber quem somos. Não saber é lucro, saber demais pode complicar, pode tornar ainda mais esquisita esta inquietude de ser fora dos padrões. Ás vezes bate uma vontade de ser uma outra. Ou de ser o que se detesta. Como seria? Odiar e amar são verbos tão próximos, tão análogos e tão simétricos. Linhas tênues que separam esses dois mundos...Esquisito é ser assim, fora dos padrões. Sem pertinências, sem comunidades, apátridas, quase. Esquisita é essa minha mania danada de querer expressar com palavras este vazio que não finda, buraco negro sem saída, um espelho plano de meu abandono.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Tristeza

Pouca coisa adianta fazer quando se está triste. Quando o mundo pesa sobre os seus ombros com toneladas, quando você se sente aquele trapo, porque acha que nada dá certo...Parece até mensagem de livro de auto-ajuda, mas isso acontece mesmo... É real.
Tristeza é sutil como brisa, de repente se sente, de repente ela está ali instalada. O que resta é senti-la, não há mais nada que se possa fazer.
Nessas horas assim, de uma nostalgia profunda, o que me move mesmo é a música.
Pouca coisa se adequa, algumas canções de dor de cotovelo, mas eu estou sempre procurando coisas novas. Coisas que me deixem mais triste ainda, ou que me tragam um gosto bom de algo maravilhoso que estava ali e agora não está mais.
Uma coisa que eu gosto muito de fazer também é de ler cartas. Cartas antigas, de amigos, cartas que me dizem tanto...Cartas saudosas, cartas que me fazem chorar. Pedacinhos de papel impregnados de sentimentos bons, de afeto, do mais puro, do mais real.
Tenho um amigo que sempre me escrevia e sinto saudades desse tempo. Escrever pra mim é respirar fundo, é aspirar vida, expirar dor.
Ele não é muito de dar conselhos, mas um dia ele me disse:

Sábias palavras estas, e de relê-las me lembro o quanto as coisas mudaram, o quanto podem mudar, mas que a tristeza é a mesma e que sempre continua.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008






O último dia do ano não é o último dia do tempo, não é o último dia de tudo. Outros dias virão...Parafraseando o poeta, se seguirão horas repetitivas e enfadonhas de rotina. Despiremos a máscara de felicidade e estaremos a postos, um retorno rápido à mediocridade da vida. O que se comemora?
Comemora-se como um ato único e solitário de anestesia.
Ri-se por fora, chora-se por dentro. Planeja-se, mas não se sonha.
Abraços, mas não verdades.
E a vida segue o mesmo rumo...E eu peço a Deus paciência.

Eu comemoro o ciclo. Esta palavrinha pequena que se traduz na esperança de Recomeçar.
Eu comemoro o Recomeço.
Ínfima capacidade de levantar-se e seguir caminhando.
E se possível, sem máscaras.

Que 2008 tenha cheiro de esperança renovável
Fresco como água, com aroma de inovação, de trabalho e paciência.

Que esta palavrinha...ah, que palavra!
Seja a palavra de ordem

Para crescer, para amar e para continuar...






DELICADEZA

Olhar de sonho,
Sorriso de criança
Suave lembrança do colorido
Da primavera...

Diante de si o mundo
E ele, descobrindo tudo,
Absorto no múltiplo
Que o mundo absurdo
lhe dá

O homem, conflitante
Que briga com o menino
Leve desenho surgindo
No fluxo
que a vida tecerá

Em teu olhar me surpreendo
Me rendo ao que ele traduz
Me encanto com a simplicidade

Com o afeto que o medo consome
Com o perfume
Com a pureza
Com a beleza

Delicadeza é o teu nome.

Rabiscado em 06 de novembro de 2007.