quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Spes


Memories, John Alexander, 1903


Esperança. No dicionário: confiança em algo positivo. Dela derivou o verbo esperar através do verbo latino SPERARE, “aguardar, ter esperança”. Na sua etimologia latina, esperança vem de spes e sperare que significa uma espera aberta, que não assenta em resultados externos , mas sobre a realização da pessoa. Assim, a esperança é uma tendência para um bem futuro e possível.
Desespero. A sua utilização mais antiga em inglês remonta a c.1325, com origem no francês antigo desperer, perder a esperança, desesperar.

Meu coração repousa ansioso sobre estas duas palavras. Entre esperar e perder a confiança na espera eu me traio, peito dolorido, braços pendentes de cansaço. Eu amo, eu me entrego, eu esqueço a altivez e o orgulho. Eu esqueço de tudo, até mesmo de quem sou. Sou uma outra ao espelho, não gosto do que vejo mas há tempos que já não consigo ser eu mesma. Repouso faminta sobre as migalhas do amor que se mostra. Do amor que se retrai. Do amor que é e não é ao mesmo tempo. Da dúvida insistente, da vontade impulsiva de ser feliz. Meu corpo me castiga, sou eu toda em frágeis pedaços contorcidos pelos espinhos que crescem sobre mim mesma. Carente, busco uma palavra, uma voz, uma confirmação. Procuro seu amor nas palavras que dizes, nas letras, nas declarações antigas. Cega, esqueço os limites, me traio, me petrifico, sou uma dor elegante sem esboço de sorrisos. Uma flor murcha, por fora e por dentro, murcha como os olhares das pessoas, como dizem que estou. Mas há hiatos maravilhosos nisto tudo quando te vejo. Quando você me diz que me ama e que eu sou a mulher da sua vida. Quando te beijo, te abraço e te sinto assim de forma tão plena.  Sinto a sua dor em meu peito, repouso a tua cabeça sobre o meu ombro e esqueço até mesmo da minha dor para te confortar. Sou confidente, escuto o que não posso. Falo o que não devo. Compartilho lágrimas, sonhos e faço planos. Mas eis que o tempo se esvai, passa ligeiro quando estou contigo. E logo estou novamente só. Abro os olhos e é treva, estou só. Eternamente pendular. Entre seguir  em frente e fazer uma curva no caminho. Entre ficar e ir embora. Entre a esperança e o desespero.

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