domingo, 12 de abril de 2009

Ribeira


É incrível como a gente sempre tenta enxergar o mundo a partir de um referencial próprio, de um modelo construído. Tudo o que não se enquadra nesse modelo é chamado por nós de estranho. Estranheza é a incapacidade de adequar a nós mesmos aquilo que é diferente. Tudo que é diferente assusta, tudo que é diferente gera interrogações e angustia. Enxergar o diferente sob uma nova perspectiva é sempre um desafio, principalmente quando o estranho é belo e desponta à nossa frente. É um exercício bom de fazer. Se permitir sentir as coisas de forma diferente, enxergar o mundo sob uma nova perspectiva...

Estranheza foi a primeira coisa que eu senti quando cheguei ali. Desde que o ônibus foi chegando ao lugar, vi que as coisas mudavam. As casas eram diferentes, a disposição das coisas nas ruas, as lojas, as pinturas nos muros, as pessoas... Tudo numa lógica diferente, como numa pintura de livro. Parecia que eu estava em outra cidade e não assim tão pertinho de casa.

O mar se anunciava sereno para mim. Sem ondas, sem aquela areia branca a que estou acostumada, sem o cheiro forte de maresia que sempre invade as minhas narinas. Era um mar calmo, um mar parecido com um rio que de quando em quando despejava ondinhas minúsculas que mal balançavam as águas. Havia barcos que mais pareciam braços, espalhavam-se pela água como brinquedos, reiteravam a aura de paz e que davam a impressão que eu estava numa cidadezinha do interior. As pessoas eram diferentes, tudo era silencioso apesar de alguns carros exibirem músicas e de haver crianças correndo. Era um silêncio que se despia em meio ao barulho suave das pessoas e das coisas.

Era uma pintura perfeita. Eu olhava encantada tudo, com cara de quem está perdida e ao mesmo tempo querendo ficar ali e respirar fundo o cheiro de novidade. Se houvesse uma maneira de guardar aquela sensação em um potinho eu o faria. Mas todas as coisas boas que sentimos são levadas sorrateiramente pelo vento. Vão e deixam em nós uma sensação de bem estar que não se pode descrever. Talvez pela necessidade de voltarem e nos encantarem mais uma vez.

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