quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Como aprender a odiar para não morrer de amor?




Oito anos. Noventa e seis meses. Dois mil oitocentos e oitenta dias.  Sessenta e nove mil, cento e vinte horas. E nada. Nada resta de um tempo que escorreu por entre os dedos. Nada se compara ao amor novo, o que se mostra, o que sobrevive ao desgaste contínuo de todos os sentimentos ruins. Este é o amor que prevalece, este é o amor que se comemora. Nele apostam-se todas as fichas, o amor de salvação. Sinto uma inveja mórbida deste amor de superfície. Uma mistura pérfida de inveja e desolamento.  Sentimento ruim, raiva, angústia. Uma pequenez que não combina com a altivez com que sempre encarei a vida. Não entendo onde se escondem agora todas as juras secretas e públicas, onde se esconde o amor que é tão grande, que transborda por todos os cantos. Conteve-se? Acabou-se? Perdeu-se na bruma de um erro, de uma palavra não-dita, tentativa infeliz de consertar o que não tem mais conserto. Não tem mais amor hoje, bebê.

Repouso a minha cabeça sobre as minhas lágrimas. Sou forte. Com toda  a modéstia que me cabe, sou forte. Sinto o cheiro de sangue que me sobe às narinas, revolto-me com a impossibilidade de seguir caminhando como um paralítico que não enxerga que não anda mais, até que sofre a primeira queda. Me arrasto pelo chão, rastejo, amparo-me no vazio, em mim mesma, em Deus. As pessoas repetem os clichês idiotas e eu esboço um sorriso amarelo. “Obrigada pela sua amizade”. Palavras inúteis, consolo enganoso. Não quero um prêmio de consolação, não quero um amor platônico, não quero ser alguém especial. Não quero os tapinhas nas costas, não quero ser uma nova mulher, fazer mil mudanças em minha vida, não quero pintar o cabelo de vermelho. Quero viver da maneira que sempre vivi e a impossibilidade de fazer isso hoje é o que mais me apavora.

Repouso a minha cabeça sobre a minha coragem. Dor é para deixar doer. Nada de analgésico, nada de paliativos. Falsidade embalada em papel de presente. Quero rasgar a esperança do peito como quem extirpa um câncer. Sem anestesia. Esperar que se arrastem os dias vazios, porque no final das contas é o que se  tem. O vazio. Contento-me com ele, com as folhas secas que o tempo vai despetalar e restará apenas o tronco oco e morto de um engano. Uma miragem no deserto de solidão que povoava a minha vida. Continuo sozinha e assim permanecerei, neste mundo insano que se debate à minha frente.

Repouso a minha cabeça sobre o meu futuro. O tempo secará as lágrimas do tempo. Mas a árvore morta nunca mais ficará verde. E sobre as folhas secas, pisando-as delicadamente, eu caminharei. Sem olhar para trás. Nunca mais.  

Um comentário:

Snow disse...

"Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão...
Quem poderá fazer aquele amor morrer, se o amor é como um grão? Morre, nasce trigo. Vive, morre pão ..."